“Em 1962, quando cursava meu último ano do normal, a repetência fabricada pelas escolas finalmente ultrapassou os limites:não havia vagas na 1ª série para os alunos. O governador tomou então três providências: aprovou as crianças por decreto – e foi todo mundo para a 2ª série, soubesse ou não ler - , montou escolas de madeira, com telhado de zinco, horrorosas, e convocou todas as normalistas que estavam no último ano do curso para dar aulas. Assim, lá fui eu para uma escola, onde me confiaram uma classe de alunos que tinham entre 11 e 12 anos e que, depois de terem repetido várias vezes a 1ª série, haviam passado de ano por decreto. Quando eles faziam fila, na entrada, para cantar o hino nacional – porque essas coisas se usavam, naquela época - , meus alunos eram os mais altos e de outra cor. Dos meus 45 alunos, apenas 3 não eram negros”
O diálogo entre o ensino e a aprendizagem
Telma Weisz *************************************************************************
CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO
O conhecimento é construído pelo indivíduo a partir das interações realizadas com o objeto de estudo (o texto) e com aqueles que compartilham desta construção, na escola, os colegas, com a mediação e intervenção do professor.
No caso da leitura e escrita, tradicionalmente se usou atividades que não faziam o aluno entrar em contato com o texto real, de uso social, não previam a interação entre os alunos, não planejavam a reflexão, e iam contra as hipóteses e ideias construídas pelos alunos.
As atividades tradicionais de alfabetização não ajudam o processo de construção e sim dificultam. Quem aprendeu utilizando as cartilhas, aprendeu porque esteve em contato com material escrito fora do ambiente escolar e pôde refletir sobre ele e construiu suas hipóteses apesar da cartilha e não por causa dela. Os 50% que não tiveram a mesma oportunidade formaram a grande massa de fracassados.
(Amanda Guerra para o material do grupo de estudos "Breve histórico da alfabetização no Brasil)
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PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA
As crianças possuem conceitualizações sobre a natureza da escrita muito antes da intervenção de um ensino sistemático. Porém, além disso essas conceitualizações não são arbitrárias, mas sim possuem uma lógica interna que as torna explicáveis e compreensíveis sob um ponto de vista psicogenético.
Ferreiro e Teberosky – Psicogênese da Língua Escrita
HIPÓTESES DE ESCRITA
PRÉ-SILÁBICO
*não corresponde a fala com a escrita;
*interpreta a sua escrita de forma global;
*pode usar letras de forma aleatória, símbolos, garatuja, ou pseudo letras.
*interpreta a sua escrita de forma global;
*pode usar letras de forma aleatória, símbolos, garatuja, ou pseudo letras.
SILÁBICO SEM VALOR SONORO
*corresponde à unidade sonora (sílaba) uma unidade gráfica;
*não faz correspondência com o valor sonoro convencional das letras utilizadas.
*não faz correspondência com o valor sonoro convencional das letras utilizadas.
SILÁBICO COM VALOR SONORO
*utiliza uma letra para cada sílaba;
*corresponde a letra utilizada o valor sonoro convencional.
*corresponde a letra utilizada o valor sonoro convencional.
SILÁBICO - ALFABÉTICO
*apresenta características da hipótese silábica (uma letra para cada sílaba) e características da hipótese alfabética (percebe a necessidade de mais de uma letra para dar conta do som que deseja ).
ALFABÉTICO
*já compreende a lógica do sistema alfabético: as letras se combinam para formar o som desejado.
ESSE CONHECIMENTO SOBRE AS HIPÓTESES DE ESCRITA MUDA RADICALMENTE A FORMA DE TRABALHAR, MUDA A IDEIA SOBRE A ALFABETIZAÇÃO, MUDA TEORIA E POR CONSEQUÊNCIA, MUDA A PRÁTICA.
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“Antes da publicação deste livro, toda a discussão sobre alfabetização estava centrada na avaliação de métodos de ensino. A psicogênse da língua escrita deslocou a questão central da alfabetização do ensino para a aprendizagem: partiu não do como se deve ensinar e sim de como de fato se aprende. (...) O que Emília Ferreiro e Ana Teberosky demonstraram é que a questão crucial da alfabetização inicial é de natureza conceitual. Isto é, a mão que escreve e olho que lê estão sob o comando de um cérebro que pensa sobre a escrita que existe em seu meio social e com a qual toma contato através da sua própria participação em atos que envolvem o ler ou o escrever, em práticas sociais mediadas pela escrita.”
(Telma Weisz em Psicogênese da Língua Escrita – apresentação da edição comemorativa de 20 anos da publicação do livro)
(Telma Weisz em Psicogênese da Língua Escrita – apresentação da edição comemorativa de 20 anos da publicação do livro)
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Princípios que norteiam o trabalho construtivista:
(ADAPTADO DO MATERIAL DO PROFA)
2º planejar atividades desafiadoras, de modo que o aluno coloque em jogo tudo que ele sabe ou pensa sobre o conteúdo trabalhado;
3º o trabalho se baseia em textos de uso social;
4º a base das atividades é a reflexão sobre o texto: sua estrutura, seu conteúdo, sua função social;
5º a sala de aula deve servir como um espaço onde o aluno encontrará materiais de apoio para suas ideias e reflexões;
6º ler antes de saber ler convencionalmente e escrever antes de saber escrever convencionalmente, são possibilidades que devem ser dadas todos os dias ao aluno;
7º o planejamento das atividades deve garantir a máxima circulação de ideias entre os alunos;
8º o professor é um modelo de leitor e um modelo de escritor para os seus alunos, por isso deve ler diariamente para eles e deve ser o escriba da turma em atividades significativas.
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LEITURA COMPARTILHADA:
(Amanda Guerra - para o material do grupo de estudos: Alfabetização e Letramento)
ESCREVER SEM SABER ESCREVER (CONVENCIONALMENTE)
Propor que os alunos escrevam do seu jeito, é acreditar que há um jeito não convencional de escrever, uma forma que o aluno está construindo, que tem uma lógica, que é fruto de uma reflexão.
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